Monday, July 31, 2023

OS SANS-CHAUSSURES

Os “sans-coulottes” eram a escumalha de rua que participou na Revolução Francesa (1789) e que foi alcunhada com esta designação por não andar com os calções habituais da aristocracia e de alguns fardamentos militares.


As roupagens e a moda permitiam distinguir facilmente as classes sociais e até estigmatizá-las. Os “sans-coulottes” eram os feios, porcos e maus do século XVIII em França. Os sofisticados e cosmopolitas “usavam coulottes”.

Atualmente, porém, a alta moda assumiu tanto os gostos da populaça que já se torna difícil distinguir o trigo do joio. As camisas esfarrapadas e as calças rotas, por exemplo, tanto podem ostentar etiquetas da Primark como da Prada ou da Vuiton.

Tenho dificuldade em entender este fenómeno porque todos temos vontade de nos diferenciar dos outros e o modo como nos vestimos e apresentamos pode ajudar a realizar esse desígnio.

Durante quase toda a minha vida profissional usei gravata quando ia trabalhar, mas nos últimos anos, depois de constatar que era o único médico dos meus círculos que o fazia, adotei o “sans-cravate”, para melhor me enquadrar.

Mantive, contudo o hábito da camisa, branca ou azul, apenas com o botão do colarinho desabotoado. Como não faço a depilação, nunca me aventurei a desabotoar a camisa até ao umbigo.

Talvez seja esta vontade de nos integrarmos onde vivemos que arrasta o pessoal para o “sem-culottismo”. Será? A verdade é que ou nos distinguimos ou nos integramos e se todos fomos tão parecidos como as cerejas, a sociedade perde mais do que ganha.

Nas cidades mais cosmopolitas continua a haver um certo espaço para a diferença, mas sempre a nivelar por baixo. Vejam as tatuagens e os piercings, que até há bem pouco tempo apenas eram usados na agropecuária, para marcar o gado. Tatuagens da ganadaria ou argolas no nariz para puxar o animal.

No meio de tanto mau gosto, perguntei-me se ainda haveria algum indicador evidente de “escumalhice”, como o uso de “culottes” no século XVIII? Haverá?

Cheguei à conclusão de que sim. São as pessoas que abandonaram os sapatos e os substituíram por havaianas ou chinelas de peixeira. Observando os seus comportamentos e a linguagem de Netflix, pejada de FDS e PQP, creio que os “sans-chaussures” são os verdadeiros “san-coulottes” do século XXI.

O melhor é não fazer comentários nem criticar porque senão ainda acontece aos com “chaussures” o que aconteceu aos com “coulottes” no século XVIII.



OS SANS-CHAUSSURES

Os “sans-coulottes” eram a escumalha de rua que participou na Revolução Francesa (1789) e que foi alcunhada com esta designação por não anda...